sábado, 28 de fevereiro de 2009

Passeio intra noite

Passeando pela noite pude perceber o quão influente em minha vida ela se torna a cada dia. Influência essa que chega a assustar-me de tão forte e surpreender-me de tão suave.

Sim, gosto do dia. Sinto-me renovada a cada contemplação que faço ao nascer e ao pôr-do-sol, quando o vejo nos momentos em que, chegando e indo embora, trazendo e levando sua enérgica força indestrutível ele tem agido com seu calor sobre todos nós, seres vivos.

Porém a noite...
Ah, a noite!
Impossível falar sobre ti, profunda, sem um suspiro sair de mim!
Companheira de pensamentos, atitudes e sentimentos...

D E V A N E I O SE Por que eu?
S Por que eu participar desses teus mistérios serenos?
A Por acaso só eu a conheço?
T Afinal, quem não a conhece?
E Envolvente nos tortura em sua infinda busca
N Por um descuido meu, seu
T Por uma louca sensação de paixão!
O Por uma doce ilusão...
S E o amor enfim em questão?

Onde fica o amor doce noite?
Grito: Onde?

E ela, em tom suave apenas sussurra: "dentro de ti minha bela, única como todas aquelas que me sentem, e não me têm como um poder obscuro, mas como um brilho escuro-claro que adentra o interno de cada ser. Tu, banhada pela lua, forrada dos pés a cabeça de estrelas incontáveis, tocada pelo orvalho que trago comigo... Tu carrega o amor, dentro de si está essa força superior... É aí, no interior da tua vida!"

Que posso eu dizer, que posso eu fazer, se ouço-te todas as noites a me dizer:
"Entra que fui feita para ti. Descansa em meu seio que quase materno é. Pensa em meu leito, que proponho-me a inspirar-te. Sonha e planeja a realização!"

Apenas entro, deleito, sonho, anseio, planejo e depois de tudo...
Obrigada Senhor!

Sandra Melo

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Passagem da Noite


É noite. Sinto que é noite
Não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
Mas porque dentro de mim,
No fundo de mim, o grito se calou,
Fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
Que palpitamos no escuro e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento, noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada? E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo. É noite no submarino.
É noite na roça grande. É noite, não é morte,
É noite de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite, é perfeitamente a noite.
Mas salve, olhar de alegria! E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono, o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta! Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão. Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias, as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas, sinos, palavras;
Que a terra prossegue seu giro,
E o tempo não murchou; não nos diluímos!
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado, o essencial é viver!

Carlos Drummond de Andrade